segunda-feira, 19 de novembro de 2007

As mazelas da república

É ate irônico como o passado está sempre presente. Como as raízes de velhos hábitos, ou de costumes que já poderiam ter sido esquecidos, se entranham nas vísceras da atualidade.

Trocando em miúdos: acreditamos tanto em inovação no texto jornalístico, em ousadia, em qualidade... Mas o máximo que as academias oferecem como exercício para a prática jornalística, são enfadados resumos... Com o intuito de nos transformar em cópias de Nilson Lage e outros brilhantes comunicólogos, que nunca seremos (obviamente).

Pra mim, o texto foi inresumível... o livro, que em pleno feriado de Proclamação da República, tirou meu sono, é dotado de linguagem rebuscada e feita pra outros padrões de intelectualidade, não os da UFRR. E um único trecho do livro me chamou atenção, e ressalta a veracidade das primeiras frases desse post.

“Os padrões éticos do Jornalismo pioraram gradativamente com a República, que se iniciou com uma reportagem antológica de Raul Pompéia, relatando a expulsão da família real , nos dias seguintes ao golpe republicano.
Desde os primeiros movimentos do novo regime, com a ilusão capitalista do encilhamento, ficou claro que, em algum lugar do mecenato tolerante de um imperador com pretensões intelectuais, o que teria peso era a exploração do trabalho mais barato possível e a realização de lucros, mesmo à custa de negócios eticamente injustificáveis. Semi-analfabetos apuravam as notícias e corretores de anúncios com muitos clientes sentavam-se nos lugares antes ocupados por escritores brilhantes. Poucos jornalistas que não fizessem da profissão escada para a vida política conseguiam, nesse contexto, manter a dignidade.

"No romance em que registra esse declínio (Recordações do Escrivão Isaías Caminha, 1909), Lima Barreto dá conta de um aspecto estritamente técnico do processo:

“Chama-se ‘cabeça’, nos jornais, às considerações que precedem uma
notícia. Feita com a moral de Simão de Nântua e a leitura de folhetins
policiais, a ‘cabeça’ é a pedra de toque da inteligência dos pequenos repórteres
e dos redatores anônimos.
Pra dar um exemplo, vou reproduzir aqui trechos de
uma cabeça. Tratava-se de uma briga entre amantes e o repórter, após
intitular a notícia - ‘o eterno ciúme’ – começou a filosofar, com muita
lógica e inédita filosofia:

“O ciúme, esse sentimento daninho que
embrutece a imaginação humana e arrasta à concepção de crimes, cada qual mais
trágico e horripilante, não cessa de produzir efeitos
maléficos”
(....)

São assim , com poucas variantes, as cabeças”.
(Barreto, 1961: 206).
Nilson Lage, Teoria e técnica do Texto Jornalístico.


Não sei se pra você, mas pra mim isso é mais comum do que feijão com arroz no prato do brasileiro.
Ou isso é só coincidência?


118 anos depois, os jornalistas da época da proclamação ainda continuam sendo copiados.
Assim como os estudantes continuam a copiar Lage, Luis Amaral, Mauro Wolf , Eugênio Bucci e tantos outros que insistem em morar na minha estante.

Ao menos sabemos quem copiar.
E boa semana a todos vocês.

Um comentário:

Anônimo disse...

"teoria e técnica do texto jornalístico" nada mais é que uma copia de "a reportagem" (do mesmo autor. A unica diferença é que por ser uma massaroca fica com cara de um produto mais intelectualizado, texto todo enfeitadinho, mas conteúdo aproveitavel não passa de uma lauda.